Carta dos Bispos aos Presbíteros
“Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração” (Jr 3, 15)
Nós, Bispos do Brasil, reunidos em Brasília, na 48ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), queremos saudar a todos os Presbíteros de nossas Dioceses e Eparquia, que mais diretamente compartilham conosco o amor a Jesus Cristo e à Igreja na tarefa de evangelizar o povo de Deus.
Agradecemos a total dedicação e amor a Jesus Cristo e à missão da sua Igreja, na qual vocês vivem a vocação e dão seu testemunho sacerdotal. Conhecemos de perto seus sacrifícios que, por vezes, alcançam o heroísmo na busca cotidiana de fidelidade à missão evangelizadora, movidos pelo ardor missionário para animar comunidades e dialogar com os mais diversos ambientes.
Caminhamos para o final do Ano Sacerdotal, cujo tema é “Fidelidade de Cristo, fidelidade do Sacerdote” que está nos trazendo abundantes graças e uma renovada consciência da identidade dos Sacerdotes, como anunciadores da Palavra, dispensadores da graça e animadores da caridade, a serviço dos irmãos e irmãs. Vocês renovaram conosco, em diversos momentos, a disponibilidade em servir o povo de Deus em suas necessidades mais profundas, com especial atenção aos mais pobres, aos jovens e aos doentes.
Por outro lado, comportamentos abusivos de alguns irmãos Presbíteros atingiram recentemente a credibilidade dos Sacerdotes e a grandeza do dom que nos foi confiado.
Amargura e sofrimento, confusão e, mesmo indignação, invadiram o íntimo de muitos cristãos e das pessoas que amam a justiça, a verdade e a coerência de vida. Com humildade, reconhecemos que estamos em tempo de purificação, recordando que, diante do pecado, nos são dados como remédios a conversão, o perdão e a reparação às vítimas; diante do crime, as penalidades da lei civil e canônica; e diante de patologias, adequadas terapias.
Essas circunstâncias e acontecimentos são um apelo para nós, Bispos, e vocês, Presbíteros, vivermos de maneira profunda e integral nossa configuração com Jesus Cristo, o Bom Pastor, para que sejam mais facilmente reconhecíveis os traços de sua presença em nosso ser e em nosso agir cotidiano, especialmente porque agimos in persona Christi Capitis (PDV 12) ao cumprir as funções de mestres da Palavra, ministros dos Sacramentos, guias e pastores das comunidades. Um renovado empenho na busca da santidade poderá reavivar em nós e nos agentes de pastoral o entusiasmo para anunciar, testemunhar e celebrar Jesus Cristo. De fato, somente nele se encontram o significado da vida, a alegria e a paz, que não esmorecem, a esperança que não desilude e a caridade que aquece os corações.
O contato diuturno e direto com o povo de Deus faz crescer a integração da vida e a partilha solidária com as comunidades que lhes são confiadas entre mil desafios, fazendo-se tudo para todos para conquistar todos para Cristo, na labuta cotidiana.
Queremos reafirmar nossa satisfação e confiança pela multidão de Presbíteros que, identificados com Cristo, compartilham as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias das comunidades que lhes são confiadas (cf. GS 1). Busquem sempre construir a comunhão fraterna, a exemplo das primeiras comunidades, nas quais “todos eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações. (...) Todos os que abraçavam a fé viviam unidos e colocavam tudo em comum” (At 2, 42-45).
Agradecemos as obras de caridade que vocês realizam, com significativa participação de leigos, para enfrentar carências e problemas concretos de suas comunidades. Admiramos os esforços para que todo o povo cresça na consciência de sua dignidade de filhos de Deus e de sua cidadania, em busca de uma libertação plena da pobreza e da fome, da exclusão social e das desigualdades.
Pedimos que zelem pela comunhão eclesial, alimentando-a com a celebração cotidiana da Eucaristia, com a oração fiel e generosa, de modo especial a Liturgia das Horas, com a busca frequente do Sacramento da Penitência e a orientação espiritual, com um estilo de vida sóbrio, que tome distância dos apelos do consumismo, da cultura da banalidade, da invasão do secularismo. Recomendamos, também, que tenham um zelo especial na administração dos bens que lhes são confiados, destinados, sobretudo, para o serviço dos mais pobres.
Sobre todos vocês, estimados filhos e irmãos, invocamos a proteção de São João Maria Vianney e da Virgem Aparecida, Mãe dos Sacerdotes, para que Ela os console e fortaleça. Pedimos que Deus os abençoe e renove cada dia, em seus corações, as razões para viverem com entusiasmo e alegria sua total dedicação a Cristo e à Igreja.
Brasília, 11 de maio de 2010
Dom Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo de Mariana
Presidente da CNBB
Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus
Vice-Presidente da CNBB
Dom Dimas Lara Barbosa
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro
Secretário-Geral da CNBB