Celebração do jubileu de prata da Basílica Menor de Nossa Senhora da Penha de França
No dia 06 de junho de 2010, domingo, encerrando a programação festiva do jubileu de prata da elevação do novo santuário da Penha à condição de Basílica Menor, os fiéis devotos de Nossa Senhora da Penha de França renderam graças a Deus e participaram da solene celebração eucarística presidida pelo bispo diocesano de São Miguel Paulista, Dom Manuel Parrado Carral. Em seqüência transcrevemos o texto da homilia que o mesmo proferiu nessa ocasião:
Leia, na íntegra, a Homilia na Missa de Ação de Graças pelos 25 anos de elevação
do Santuário de Nossa Senhora da Penha a Basílica Menor
Na solene liturgia que hoje estamos celebrando, nesta Basílica Menor, ecoam as palavras do Salmo 50: “Oferece a Deus o sacrifício de louvor e cumpre tuas promessas ao Altíssimo. Invoca-me no dia da angústia, e eu te livrarei e tu me honrarás”. É nesse espírito de louvor e de ação de graças, que a Diocese de São Miguel Paulista celebra o jubileu de prata da elevação do Santuário de Nossa Senhora da Penha a Basílica Menor por ato do Servo de Deus, o Papa João Paulo II, atendendo o pedido do então Arcebispo da Arquidiocese de São Paulo, o Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, no memorável dia 07 de junho de 1985.
As histórias da Igreja e do bairro da Penha de França se entrelaçam. Entre 1620 a 1668, Mateus Nunes de Siqueira e, seu irmão, Pe. Jacinto Nunes de Siqueira adquiriram as terras do futuro povoado, onde por volta de 1668, foi construída a primeira Capela, dedicada a Nossa Senhora da Penha. O Pe. Jacinto Nunes de Siqueira deixou, por testamento, um patrimônio de valor para a Capela: terras, gado, dinheiro e escravos.
Em 1796, ano da criação da Paróquia de Nossa Senhora da Penha, reinava em Portugal Dona Maria I, mãe do príncipe regente Dom João , que concede ao Bispo de São Paulo a faculdade para dividir em três a freguesia da Sé, ficando competindo uma parte, e reconstituindo as outras duas, uma no bairro de Nossa Senhora do Ó, que fica além do Rio Tietê e outra em Nossa Senhora da Penha até o bairro do Pilar, que é a parte mais remota da Catedral, conforme narra o documento expedido em Lisboa em 15 de setembro de 1796.
A devoção a Nossa Senhora da Penha se desenvolve de forma extraordinária. Desde o mais humilde tropeiro, até capitães e governadores reúnem-se na pequena Igreja da Penha de França buscando a proteção e o consolo da Mãe de Deus e nossa.
Em tempos não tão distantes, foi muito forte o costume de peregrinar ao Santuário de Nossa Senhora da Penha e ainda hoje são inúmeras as pessoas que de longe aqui chegam em romaria. Daí o título que lhe foi outorgado pela Câmara dos Vereadores de padroeira civil da cidade de São Paulo.
Esse fato é citado no documento do Papa João Paulo II quando, em 07 de junho de 1985, eleva o Santuário da Penha a Basílica Menor. Havia, a tradição de anualmente levar a imagem de Nossa Senhora até à Câmara Municipal onde a Virgem presidia uma das Sessões. Nas grandes epidemias e períodos de secas prolongadas, a imagem de Nossa Senhora da Penha era levada pelos fiéis em procissão à Catedral da Sé, onde eram feitas celebrações especiais.
Este Santuário, celebrando hoje 25 anos de sua elevação a Basílica Menor, continua sendo um marco de devoção Mariana não só para a Diocese de São Miguel Paulista, mas para toda a cidade de São Paulo e regiões vizinhas, cujos devotos aqui acorrem para fazer seus pedidos e pagar suas promessas à querida Mãe invocada sob o título de Nossa Senhora da Penha.
Por que Basílica? A palavra basílica tem sua origem no grego e significa casa real. As primeiras basílicas eram originárias da Pérsia. O palácio real, ou melhor, a basílica, possuía uma sala para a audiência do rei. As basílicas tornaram-se famosas no mundo grego e, mais tarde, por volta do século III a . C. no mundo romano. No mundo grego, as basílicas eram o lugar onde se reuniam os magistrados para advogar uma causa ou anunciar novidades. No ano 313 da era cristã, com o Edito de Milão, quando o imperador Constantino favoreceu a liberdade de culto, colocando fim às perseguições contra os cristãos, muitas basílicas se tornaram templos cristãos.
Para que as basílicas pagãs se tornassem templos cristãos não foram necessárias muitas modificações: a cátedra do bispo substituiu o trono do rei ou o assento do juiz, o assento para os presbíteros foi colocado no lugar do banco dos assessores, o ambão estava colocado na nave principal, no lugar da tribuna de madeira onde eram feitas as leituras, o altar variava de acordo com a região, apenas se acrescentou um espaço, na entrada da basílica, chamado de átrio.
Quando os cristãos construíram suas primeiras basílicas, edificaram as mesmas sobre os túmulos dos mártires. É o caso da primeira basílica de São Pedro, construída pelo imperador Constantino, em Roma, entre os anos de 324 e 349, construída sobre o cemitério onde estava o túmulo de São Pedro.
Hoje a Igreja classifica as basílicas como: Basílicas Maiores - São João do Latrão, São Pedro, São Paulo fora dos muros e Santa Maria Maior e Basílicas Menores - todas as outras basílicas existentes no mundo, como por exemplo, Nossa Senhora Aparecida - em Aparecida, Divino Pai Eterno - em Trindade e Nossa Senhora da Penha em São Paulo. Este título é concedido apenas pelo Papa e as condições para que uma igreja seja chamada de basílica são determinadas pela Congregação para o Culto Divino e para a Disciplina dos Sacramentos.
A dignidade do templo precede ao título que é um reconhecimento da Santa Igreja feito àqueles templos que possuam uma intensa vida pastoral e evangelizadora e que se destaquem por sua transcendência histórica.
Assim escreve o Papa João Paulo II no documento que concedeu o título de Basílica Menor ao Santuário da Penha: “... por força desta carta determinamos que ao referido templo dedicado a Deus, para honra e culto da Santíssima Virgem, sob a denominação de Nossa Senhora da Penha, ... seja conferido o título e a dignidade litúrgica de Basílica Menor, com todos os direitos e privilégios que lhe são anexos.”
A Diocese de São Miguel Paulista está em festa. Temos motivos para juntamente com Nossa Senhora da Penha cantarmos: “O Senhor fez pornós grandes coisas, o seu nome é Santo!” ( Lc 1,49). Afirmo que Nossa Senhora da Penha, protetora da cidade de São Paulo, sente-se feliz porque esta sua Casa de Oração, que foi e sempre será o “Lugar do Rei”, está intimamente unida ao sucessor de São Pedro e continuará sendo um forte referencial de vida pastoral e litúrgica para toda a nossa cidade.
Esta Basílica que é o símbolo da fé de um povo representa a nossa “igreja interior”, ou seja, o nosso coração, onde Deus faz sua morada como tão bem nos falam as leituras bíblicas que acabamos de ouvir.
Na primeira leitura, retirada do segundo livro de Samuel, Davi quer construir uma casa, um templo para Deus, mas Deus rejeita seu projeto e anuncia: Quando chegar o fim dos teus dias e repousares com teus pais, então suscitarei um descendente... Ele construirá uma casa para o meu nome, e eu firmarei para sempre o seu trono real. Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho. Portanto, meus irmãos e minhas irmãs, o verdadeiro templo de Deus é o nosso coração, onde Deus quer estabelecer uma relação de amor com seus filhos e filhas.
Na segunda leitura, o apóstolo São Paulo escrevendo à comunidade dos efésios lembra: é por Ele, Cristo Jesus, que todos nós, judeus e pagãos, temos acesso ao Pai, num só Espírito. Portanto, já não somos estrangeiros nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e moradores da casa de Deus, edificados sobre o alicerce dos apóstolos e dos profetas, tendo como pedra angular o próprio Cristo Jesus. Nele, a construção toda, vai crescendo e formando um templo santo no Senhor. Logo em Jesus Cristo somos edificados para sermos a morada de Deus, no Espírito.
O Evangelho de São João que foi proclamado, nos mostra Jesus, às vésperas de sua paixão, expulsando do templo todos os que ali faziam negócios afirmando: não façais da casa de meu Pai um mercado! Questionado pelos judeus sobre com que autoridade agia assim, Jesus responde: Destruí vós este templo e em três dias eu o reerguerei. Os judeus não compreenderam sua resposta, mas Jesus falava do templo que é o seu corpo.
Finalizando esta reflexão chamo a atenção para três pontos:
1. O respeito e a veneração que devemos ter com a Casa de Deus e a casa de nossa Mãe Maria. Aqui o Filho de Deus habita fisicamente, no Sacrário;
2. O respeito para com nosso corpo, templo da Santíssima Trindade – Deus habita em nós;
3. O respeito para com nosso próximo, seja ele quem for, ele é filho de Deus, feito à sua imagem e semelhança - tudo o que fizeres ao menor dos meus é a mim que o fazes, afirmou Jesus.
Que nosso padroeiro diocesano, São Miguel Arcanjo, e que a Virgem Maria, a Senhora da Penha, nos ajudem na nossa caminhada de discípulos missionários, anunciadores e testemunhas de Jesus Cristo no mundo de hoje.
Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo
Dom Manuel Parrado Carral
Bispo Diocesano de São Miguel Paulista