Mensagem dos Bispos do Brasil sobre a Palavra de Deus e a Animação Bíblica de toda Pastoral
Dias virão em que o povo sentirá fome da Palavra
(cf. Am 8,11)
Na 48ª Assembléia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, aprofundamos o tema da Palavra de Deus na Igreja. Enquanto aguardamos com muito carinho a Exortação Apostólica pós-sinodal do Papa Bento XVI, orientados pela mensagem do Sínodo, com as ricas contribuições de toda a Igreja sobre este tema, convidamos todas as comunidades a acolher este grande dom e a preparar o ânimo para uma recepção mais viva da Palavra de Deus. Assim, a Igreja no Brasil poderá ser, nesta mudança de época, anunciadora corajosa das riquezas da Palavra em estado permanente de missão em toda a sua ação evangelizadora.
No Prólogo do evangelho de São João, encontramos o anúncio que ilumina a vida do mundo inteiro: “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus, e a Palavra era Deus... e a Palavra se fez carne” (Jo 1, 1.14). A Palavra se torna um de nós e pode ser vista, tem um nome e um rosto: é Jesus Cristo. Depois de percorrer as estradas da Palestina, encontrando todo tipo de pessoas e fazendo o bem, a Palavra feita carne se manifesta de forma mais eminente no Mistério Pascal. É o amor do Pai que, na glorificação do Filho, chega até nós pela força do Espírito.
Do lado aberto de Jesus nasce a Igreja, que, guiada pelo Espírito, começa a colocar por escrito a Palavra revelada, que não se esgota nos textos sagrados, mas continua no rio de vida que é a Tradição. Isso aconteceu, também, no Antigo Testamento quando a experiência da salvação deu origem, já no povo de Israel, aos textos sagrados. A Palavra, portanto, germina na vida da Igreja e é autenticamente interpretada por meio do Magistério do sucessor de Pedro e dos bispos em comunhão com ele. Esta Palavra, que é vida, continua viva nas comunidades cristãs.
Exortamos os discípulos e as discípulas de Jesus do nosso tempo a se deixarem alcançar pela palavra de seu Mestre. Como aos primeiros, lá na Palestina, Ele lhes dirigiu o olhar e a palavra (cf. Mt 4,18-22). Eles, ao ouvirem sua palavra, acolheram sua Pessoa: seguiram-no. Foi um começo. Muitas vezes, depois, tiveram que renovar os motivos para o seguimento. Naquelas situações, a Palavra do Senhor não lhes faltava: escutavam-no. Deixavam-se ensinar por Ele. E os discípulos amadureciam no seguimento e nos seus vínculos pessoais com o Senhor. Esta palavra continua viva na história e chegou até nós, na terra de Santa Cruz.
Louvemos a Deus por tudo o que se fez e se faz em nosso Brasil por meio do trabalho evangelizador com a Bíblia, desde o “movimento bíblico” já antes do Concílio Vaticano II, e com ele, e a partir dele, com a rica “pastoral bíblica”. A nossa Igreja no Brasil tornou-se mais atenta em acolher a Revelação do Senhor, mais animada em encontrar-se com a Palavra viva, que é Jesus Cristo, e mais profética e misericordiosa em servir a todos, especialmente aos mais fracos.
Deus suscita em nosso povo uma grande fome e sede da Palavra, uma grande procura e desejo de conhecer, viver e anunciar a mensagem da Sagrada Escritura. Este encantamento pela Palavra é um apelo para que, em nossas dioceses, paróquias e comunidades se ofereça e se facilite o acesso à Bíblia, ao estudo bíblico e a vivência da mensagem revelada.
Em continuidade com tudo que já se realiza, somos convidados a dar um novo passo. Trata-se de compreender que a Palavra de Deus é a alma de toda a ação evangelizadora da Igreja. Propõe-se uma verdadeira “Animação Bíblica da Pastoral”. Assim a Palavra de Deus contida na Sagrada Escritura suscita, forma e acompanha a vocação e a missão de cada discípulo missionário de Jesus Cristo e orienta as ações organizadas da Igreja. Dessa forma, além de ser “alma da teologia” (DV 24), a Palavra de Deus torna-se também a “alma da ação evangelizadora da Igreja” (DP 372; DAp 248).
Quando falamos da “Animação Bíblica da Pastoral”, propomos conhecer e assimilar mais a Revelação de Deus, em ter, mediante sua Palavra, um encontro pessoal e comunitário com o Senhor e sermos corajosos missionários do Reino de Deus. Por isso a “Animação Bíblica da Pastoral” deve tornar-se um verdadeiro aprendizado, por meio de um caminho de conhecimento e interpretação da Sagrada Escritura, caminho de comunhão e oração com o Senhor e caminho de evangelização e anúncio da Palavra de Deus, esperança para o nosso mundo (cf. DAp 248).
É hora, pois, de uma formação bíblica mais intensa, profunda, sistemática e corajosa; de um contínuo e fascinante contato com a Palavra de Deus, que é Jesus Cristo; de uma forte e vibrante ação evangelizadora a partir da Palavra de Deus.
Com a Bíblia na mão, a Palavra de Deus no coração e com os pés na missão, somos convocados à prática da Leitura Orante. Feita com todo empenho em nível pessoal e comunitário, ela vai nos educar na fé proporcionando uma catequese bíblica, que forma discípulos apaixonados por Jesus Cristo. Ela nos leva a celebrar a esperança na liturgia, que dispõe para plena comunhão com Deus, que se realiza na Eucaristia. Ela, enfim, fortalece-nos na missão de anunciar a Palavra a todos os povos por meio de uma caridade criativa. Quando pessoas e comunidades são transformadas pela Palavra, multiplicam-se na Igreja e na sociedade frutos de amor, solidariedade, justiça e paz.
Convidamos todas as Igrejas particulares, com suas pastorais, movimentos, organismos, associações, novas comunidades, círculos bíblicos, grupos de família e outras expressões comunitárias, a fazer um verdadeiro mutirão de Leitura Orante em seus diversos métodos, entre os quais se destaca a Lectio Divina.
Deixemo-nos cativar pela Palavra. Ela faz arder nossos corações, abrir nossas mãos e torna velozes os nossos pés na missão. Maria, modelo perfeito de acolhida e de seguimento da Palavra nos acompanhe na escuta orante e na dedicação generosa ao anúncio da Palavra a partir do testemunho da nossa vida.
Brasília, 12 de maio de 2010
Dom Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo de Mariana
Presidente da CNBB
Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus
Vice-Presidente da CNBB
Dom Dimas Lara Barbosa
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro
Secretário-Geral da CNBB
Fonte: CNBB