Homilia na celebração eucarística de encerramento do Ano Sacerdotal no Santuário Eucarístico Nossa Senhora da Penha
- 18 de junho de 2010 –
Meus Caros Irmãos no Sacerdócio:
É uma alegria muito grande estar aqui com vocês, nesta manhã, presidindo essa Eucaristia no Santuário Eucarístico Nossa Senhora da Penha, junto a Maria Mãe dos Sacerdotes, ao redor do altar do Senhor, para refletirmos o que significou em nossa vida e na vida de nossa Diocese, o Ano Sacerdotal que estamos encerrando. Na verdade, o Ano Sacerdotal chega ao seu fim cronológico, mas o objetivo e a proposta pelo qual foi proclamado, continua. É o início de um novo tempo. Qual o legado que o Ano Sacerdotal nos deixa? O que a Igreja espera de nós?
Saudando vocês, quero agradecer a todos e a cada um a fraterna presença nesta celebração. O teólogo Karl Rahner afirmou: “O cristão do futuro, ou será místico ou não será cristão”. Meus caros irmãos, o sacerdote em nossos dias, ou vive em comunhão com o seu bispo fazendo fraternidade com seus irmãos presbíteros ou não conseguirá garantir a fidelidade a seus compromissos sacerdotais.
O Papa Bento XVI, falando aos padres durante sua recente visita a Fátima afirmou: “A fidelidade à própria vocação exige coragem e confiança, mas o Senhor quer que saibam unir as vossas forças sendo solícitos uns pelos outros e sustentando-vos fraternalmente. Os momentos de oração e estudo comum, de partilha das exigências da vida e do trabalho sacerdotal são uma parte necessária da vossa vida. Como é importante que vos ajudeis mutuamente por meio da oração e com conselhos e discernimentos úteis! Particular atenção devem merecer as situações de um certo esmorecimento dos ideais sacerdotais ou a dedicação a atividades que não condizem integralmente com o que é próprio de um ministro de Jesus Cristo. Então é hora de assumir, juntamente com o calor da fraternidade, a atitude firme do irmão que ajuda seu irmão a manter-se em pé”.
O Papa por ocasião da proclamação do Ano Sacerdotal, em 16 de junho de 2009, lembrou que os sacerdotes são um grande dom não só para a Igreja, mas também para a própria humanidade. O mundo necessita de pessoas que aceitem com firmeza e alegria a radicalidade do Evangelho.
Ainda em Fátima, disse o Papa: “Caríssimos padres, os homens e as mulheres do nosso tempo só nos pedem que sejamos sacerdotes até o fundo, e nada mais. Os fiéis leigos encontrarão em muitas outras pessoas aquilo que humanamente têm necessidade, mas só no sacerdote poderão encontrar aquela Palavra de Deus que deve estar sempre nos seus lábios; a Misericórdia do Pai, abundante e gratuitamente concedida no Sacramento da Reconciliação e o Pão da Vida Nova, verdadeiro alimento oferecido aos homens.”
No pronunciamento, que o Papa Bento XVI fez, no dia 12 de março de 2010, durante o Congresso Teológico realizado em Roma, assim se expressou: “Num contexto de secularização difundida, que exclui Deus de maneira progressiva da esfera pública, estimados irmãos sacerdotes, é particularmente importante que o apelo a participar no único sacerdócio de Cristo no ministério ordenado floresça o carisma da profecia: há grande necessidade de presbíteros que falem de Deus ao mundo e que apresentem o mundo a Deus. Homens não sujeitos a modas culturais efêmeras, mas capazes de viver autenticamente aquela liberdade que somente a certeza da pertença a Deus é capaz de conferir. A profecia que hoje o mundo pede, a profecia mais necessária é a da fidelidade que, começando a partir da fidelidade de Cristo à humanidade, através da Igreja e do sacerdócio ministerial, leve a viver o próprio sacerdócio na adesão total a Cristo e à Igreja”.
Na abertura do Ano Sacerdotal, o Papa lembra a figura de São João Maria Vianney, o Cura D’Ars que dizia:“Oh como é grande o padre! Se lhe fosse dado compreender-se a si mesmo, morreria! Por isso, no decorrer do Ano Sacerdotal, em diversas circunstâncias, fomos convidados a aprofundar o mistério de nossa vocação sacerdotal.
O Sacerdócio se origina no seio da Santíssima Trindade, fruto do Amor apaixonado de Deus pelas suas criaturas. Cumprindo o projeto do Pai, o Verbo Eterno, o Filho de Deus, para ser nosso Mediador e Intercessor junto ao Pai, por obra do Espírito Santo, se encarna, se faz homem, se faz um de nós. Jesus Cristo é o Eterno e Sumo Sacerdote que incessantemente se oferece ao Pai pela redenção do mundo.
Jesus instituiu o Ministério Sacerdotal para perpetuar no mundo, seu eterno e perene sacrifício. Assim, “os presbíteros, tirados dentre os homens e constituídos a favor dos homens nas coisas que se referem a Deus, para oferecerem dons e sacrifícios pelos pecados, convivem fraternalmente com os restantes homens. Não poderiam ser ministros de Cristo se não fossem testemunhas e dispensadores de uma vida diferente da terrena, e nem poderiam servir aos homens se permanecessem alheios à sua vida e às suas situações. Na edificação da Igreja, os presbíteros devem conviver com todos, com grande humanidade, a exemplo do Senhor Jesus” (Rito de Ordenação).
Portanto, o padre é inteiramente de Deus para ser inteiramente dos homens. Assim exerce seu ministério, in persona Christi Capitis perpetuando no mundo o sacrifício único de Jesus Cristo que se doa e se entrega pela salvação dos homens, que acolhe e reconcilia os homens entre si e com o Pai.
“In persona Christi Capitis” é a chave do mistério. Não basta salvar as aparências e desempenhar nossas funções de maneira mais ou menos correta. Não somos “funcionários do sagrado”. Pela sagrada ordenação somos configurados com Cristo que age realmente e realiza o que nós, sacerdotes, não podemos fazer por nós mesmos, como a consagração do vinho e do pão, para que sejam realmente presença do Senhor e a absolvição dos pecados. É Jesus que se faz presente com sua própria ação na pessoa do sacerdote que realiza estes gestos.
Quando fomos ordenados presbíteros, o bispo ordenante nos perguntou: Queres unir-te cada vez mais ao Cristo, sumo Sacerdote, que se entregou ao Pai por nós, e ser com Ele consagrado a Deus para salvação da humanidade? E nós respondemos: quero, com a graça de Deus.
Esse compromisso assumido livremente deve nos levar a uma unidade de vida. Sacramentalmente somos representantes de Cristo Sacerdote e devemos assumir em nossa vida pessoal essa configuração com Ele. Para isso é necessário superar a distinção entre “função sacerdotal” e “vida privada” tão enraizada na cultura moderna. Isso requer de cada um de nós uma renovada consciência de nossa identidade sacerdotal. Não somos sacerdotes somente no altar, somos sacerdotes de Cristo com toda a nossa pessoa e com todo o nosso ser.
O lema do Ano Sacerdotal: Fidelidade de Cristo, fidelidade do sacerdote expõe claramente a raiz de nossa identidade presbiteral. “Avocação do sacerdote é excelsa e permanece um grande mistério também para quantos a receberam como dom. Os nossos limites e as nossas debilidades devem induzir-nos a viver e a conservar com fé profunda esta dádiva preciosa, com a qual Cristo nos configurou consigo, tornando-nos participantes da sua missão salvífica. Com efeito, a compreensão do Sacerdócio Ministerial está vinculada à fé e exige, de maneira cada vez mais forte, uma continuidade radical entre a formação seminarística e a formação permanente” diz o Papa Bento XVI em seu pronunciamento no Congresso Teológico promovido pela Congregação para o Clero.
Queridos padres de nossa Diocese de São Miguel Paulista, faço minhas as palavras do Santo Padre: a todos vós que doastes a vida a Cristo, desejo exprimir o apreço e o reconhecimento eclesial. Obrigado pelo vosso testemunho muitas vezes silencioso e nada fácil, obrigado pela vossa fidelidade ao Evangelho e à Igreja”. E acrescento, Jesus Cristo ama a cada um de vocês, a Igreja ama e confia em vocês, o povo de Deus que está nesta Igreja Particular ama os seus padres, o bispo ama a todos e a cada um e agradece o apoio e a fraterna colaboração.
O Papa Bento XVI, na homilia da missa de encerramento do Ano Sacerdotal responde aos questionamentos do começo desta nossa reflexão, sobre os frutos deste ano, quando nos convida a meditar sobre a audácia de Deus que, embora conhecendo nossas fraquezas e debilidades, se abandona nas mãos de seres humanos: essa audácia de Deus é realmente a maior grandeza que se oculta no sacerdócio.
E o Papa continua dizendo: “Era de se esperar que ao inimigo não agradasse perceber que o sacerdócio brilhara novamente; ele teria pretendido vê-lo desaparecer, para que, ao final, Deus fosse retirado do mundo. E assim ocorreu que, precisamente neste ano de alegria pelo sacramento do sacerdócio, vieram à luz os pecados dos sacerdotes,... pedimos perdão insistentemente a Deus e às pessoas afetadas, enquanto prometemos que desejamos fazer todo o possível para que semelhante abuso não volte a acontecer jamais; que na admissão ao ministério sacerdotal e no processo de formação que prepara para o mesmo faremos todo o possível para examinar a autenticidade da vocação”.
O Papa Bento XVI afirma: “Se o Ano Sacerdotal tivesse sido uma glorificação de nossas conquistas humanas pessoais, teria sido destruído por esses acontecimentos. Mas, para nós, tratava-se precisamente do contrário, de sentir-nos agradecidos pelo dom de Deus, um dom que se leva em “vasos de barro”, e que vez por outra , através de toda a debilidade humana, torna visível seu amor ao mundo. Assim consideramos o acontecido como uma tarefa de purificação, uma missão que nos acompanha em direção ao futuro e que nos faz reconhecer e amar mais ainda o grande dom de Deus. Deste modo, o dom converte-se no compromisso de responder ao valor e a humildade de Deus com nosso valor e nossa humildade. A palavra de Cristo...pode dizer-nos neste momento o que significa fazer-se e ser sacerdote: “Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração.” (Mt 11,29)
Quero terminar essa reflexão com as palavras do Subsídio Doutrinal da CNBB: Presbítero, Anunciador da Palavra de Deus, Educador da Fé e da Moral da Igreja: Que a Virgem Santíssima, mãe de Deus e de todos os sacerdotes, interceda por todos os presbíteros, a fim de que eles possam, revigorados em sua vida espiritual, se dedicar totalmente à obra evangelizadora, com fidelidade a Cristo e à sua Igreja. ... Maria tem predileção pelos sacerdotes por dois motivos: porque são mais semelhantes a Jesus, amor supremo do seu coração, e porque também eles, como ela, estão comprometidos na missão de proclamar, testemunhar e oferecer Cristo ao mundo.
Que São Miguel Arcanjo, nosso padroeiro, proteja nossa Igreja Particular, cada um de seus padres e a nós bispos na fidelidade aos compromissos assumidos.
Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Dom Manuel Parrado Carral
Bispo Diocesano de São Miguel Paulista