Audiência Geral de 12 de fevereiro de 2020
PAPA FRANCISCO
AUDIÊNCIA GERAL
Sala Paulo VI
Quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020
Catequeses sobre as Bem-aventuranças - 3
Amados irmãos e irmãs, bom dia!
Empreendemos o caminho das bem-aventuranças e hoje analisamos a segunda: bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.
Na língua grega em que o Evangelho é escrito, esta bem-aventurança é expressa com um verbo que não está no passivo — na verdade os bem-aventurados não são vítimas desse choro — mas no ativo: «os que choram»; choram, mas por dentro. É uma atitude que se tornou central na espiritualidade cristã, à qual os padres do deserto, os primeiros monges da história, chamaram “penthos”, ou seja, uma dor interior que se abre a uma relação com o Senhor e com o próximo.
Este choro, nas Escrituras, pode ter dois aspetos: o primeiro é pela morte ou sofrimento de alguém. O outro aspecto são as lágrimas pelo pecado — pelo próprio pecado — quando o coração sangra pela dor de ter ofendido a Deus e ao próximo.
Trata-se, portanto, de amar o outro de maneira tal que nos vinculamos a ele ou a ela até compartilharmos a sua dor. Há pessoas que permanecem distantes, um passo atrás; ao contrário, é importante que os outros conquistem o nosso coração.
Falei muitas vezes do dom das lágrimas, e de como é precioso (cf. Exort. ap. pós-sin. Christus vivit, 76; Discurso aos jovens da Universidade de São Tomás, Manila, 18 de janeiro de 2015; Homilia na quarta-feira de Cinzas, 18 de fevereiro de 2015). Podemos amar de uma forma fria? Podemos amar por função, por dever? Claro que não. Há alguns aflitos para consolar, mas às vezes há também consolados para afligir, para despertar, que têm um coração de pedra e não aprenderam a chorar. É necessário também despertar as pessoas que não se deixam comover pela dor dos outros.
O luto, por exemplo, é um caminho amargo, mas pode ser útil para abrir os olhos para a vida e para o valor sagrado e insubstituível de cada pessoa, e nesse momento percebemos quão curto é o tempo.
Há um segundo significado desta paradoxal bem-aventurança: chorar pelo pecado.
Aqui é necessário distinguir: há aqueles que estão irados por terem cometido um erro. Mas isto é orgulho. Ao contrário, há quem chora pelo mal feito, pelo bem omitido, e pela traição do relacionamento com Deus. Este é o choro por não ter amado, que nasce da preocupação pelas outras pessoas. Neste caso, choramos porque não correspondemos ao Senhor que nos ama tanto, e entristece-nos o pensamento do bem que não praticamos; este é o significado do pecado. Estes dizem: «Ofendi aquele que amo», e isto os faz sofrer até às lágrimas. Deus seja abençoado se houver estas lágrimas!
Este é o tema dos próprios erros a enfrentar, difícil mas vital. Pensemos no choro de São Pedro, que o levará a um amor novo e muito mais verdadeiro: é um choro que purifica, que renova. Pedro olhou para Jesus e chorou: o seu coração foi renovado. Ao contrário de Judas, que não aceitou ter errado e, pobre homem, suicidou-se. A compreensão do pecado é um dom de Deus, é uma obra do Espírito Santo. Nós, sozinhos, não conseguimos entender o pecado. É uma graça que devemos pedir. Senhor, que eu entenda o mal que cometi ou o que posso cometer. Este é um dom muito grande e depois de ter compreendido isto, vem o choro de arrependimento.
Um dos primeiros monges, Efrém, o Sírio, diz que um rosto lavado pelas lágrimas é de uma beleza indescritível (cf. Discurso ascético). A beleza do arrependimento, a beleza do choro, a beleza da contrição! A vida cristã tem sempre a sua melhor expressão na misericórdia. Sábio e bem-aventurado é aquele que acolhe a dor relacionada com o amor, porque receberá a consolação do Espírito Santo que é a ternura de Deus que perdoa e corrige. Deus perdoa sempre: não nos esqueçamos disto. Deus perdoa sempre, até os piores pecados, sempre. O problema está em nós, que nos cansamos de pedir perdão, fechamo-nos e não pedimos perdão. É este o problema, mas Ele está ali para perdoar.
Se tivermos sempre em mente que Deus «não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos castigou segundo as nossas culpas» (Sl 103, 10), vivemos na misericórdia e na compaixão, e em nós surge o amor. Que o Senhor nos conceda amar em abundância, amar com o sorriso, com a proximidade, com o serviço e também com o choro.
Apelo pela China e Síria
Ao saudar cordialmente todos os peregrinos de língua portuguesa, faço menção especial dos grupos brasileiros de Divinópolis e Porto Alegre. Que a Virgem Santa sempre vos acompanhe e ampare no crescimento cristão ao longo do caminho da vida, conservando, a vós e a quantos vos são queridos, na perene amizade de Deus. Sobre vós e vossas famílias desça a bênção do Senhor. Obrigado!