Homilia da Celebração de Abertura da Campanha da Fraternidade 2015
Catedral São Miguel Arcanjo – 22/02/2015
Tema: Fraternidade, Igreja e Sociedade.
Lema: “Eu vim para servir”(Mc 10,45).
No espírito do tempo litúrgico da quaresma, iniciado na quarta-feira de cinzas, que nos convida à conversão e a viver mais intensamente a vida de oração, a prática do jejum e da caridade, estamos reunidos nesta Igreja Mãe de nossa Diocese de São Miguel Paulista brindo oficialmente a Campanha da Fraternidade de 2015.
Durante o tempo da quaresma desse ano a Igreja nos convida a refletir sobre o tema: Fraternidade: Igreja e Sociedade e o lema “Eu vim para servir”. A escolha do tema e do lema desta Campanha da Fraternidade está em estreita comunhão e em continuidade com a celebração dos 50 anos de encerramento do Concílio Ecumênico Vaticano II.
A Campanha da Fraternidade deste ano nos convida a fazer uma retrospectiva histórica das anteriores, quando vamos perceber o anúncio profético que as Campanhas representam. Nelas encontramos a abordagem de problemas angustiantes que afetam nossa sociedade: saúde, educação, menor, trabalho, moradia, violência, tráfico humano e outros.
Há 11 anos, a Campanha da Fraternidade de 2004, sobre a água, em um dos seus objetivos específicos propunha: “Defender a participação popular na elaboração de uma política hídrica para que a água seja de fato de domínio público e seja gerenciada pelo poder público com participação da sociedade civil e da comunidade local”.
Naquela época, Dom Antônio Celso Queiroz, então Vice-presidente da CNBB fazia um apelo pela mudança de atitude quanto ao uso da água: “Queremos alertar, dizia ele, para o desperdício da água, porque não há reaproveitamento da água.”
É este serviço profético que a Campanha da Fraternidade deste ano propõe a todos os homens e mulheres de boa vontade: Fraternidade: Igreja e Sociedade – com o Lema:“Eu vim para servir”.
Em sua mensagem ao povo brasileiro, por ocasião da abertura da Campanha da Fraternidade o Papa Francisco escreve: “De fato a Igreja não pode ser indiferente às necessidades daqueles que estão ao redor, pois, as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo.”
Mas o que fazer? Pergunta o Papa e, em seguida, responde: “Durante os quarenta dias em que Deus chama o seu povo à conversão, a Campanha da Fraternidade quer ajudar a aprofundar, à luz do Evangelho, o diálogo e a colaboração entre a Igreja e a Sociedade – propostos pelo Concílio Ecumênico Vaticano II – como serviço de edificação do Reino de Deus, no coração e na vida do povo brasileiro”.
Muitos em nome de uma falsa compreensão do termo laicidade afirmam que a Igreja deve cuidar da sacristia e a coisa pública é competência do Estado. Não é assim. “A discussão sobre a laicidade do Estado deve levar em consideração a presença das pessoas que formam a sociedade. Existe o Estado porque existem as pessoas que dão a razão de ser do Estado. O Estado, como Estado, independe de uma religião, mas não independe da sociedade, das pessoas que creem. O Estado, por não ser pessoa, não crê, mas pessoas que formam a sociedade podem crer, viver e exteriorizar a sua fé”.
Os cristãos têm como direito de cidadão, de cidadã serem ativos e propositivos em relação à sociedade e, por isso, ao Estado. Os cristãos não desejam privilégios, mas têm o direito de participar da vida da sociedade no servir e transformar. No servir e construir uma sociedade sempre mais fraterna, justa e solidária afirma o texto-base no número 247 e seguintes.
A Campanha da Fraternidade deste ano nos propõe como um de seus objetivos específicos: “Buscar novos métodos, atitudes e linguagens na missão da Igreja de Cristo de levar a Boa Nova a cada pessoa, família e sociedade”. Como Igreja Particular de São Miguel Paulista, encontramos neste objetivo específico um desafio e um estímulo a mais para assumirmos com audácia evangélica a primeira prioridade de nosso 6º Plano Diocesano de Pastoral “Ser uma Igreja em estado permanente de missão”, ser uma Igreja em “Saída”, como pede o Papa Francisco, realizando constantemente as Visitas Missionárias.
Outro objetivo específico dessa Campanha da Fraternidade é: “Atuar profeticamente, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, para o desenvolvimento integral da pessoa e na construção de uma sociedade justa e solidária”. Para atuar profeticamente devemos nos reconhecer e viver em comunidade como povo de Deus, como família de Deus, procurando um amadurecimento constante na fé através de uma catequese querigmática e mistagógica, constante. O Papa Francisco nos adverte: “se não professarmos Jesus Cristo, nos converteremos em uma ONG piedosa, não na Igreja do Senhor”.
Portanto, nossa opção preferencial pelos pobres deve ter seu fundamento na contemplação de Jesus Cristo que sendo Deus se despojou de tudo para fazer-se um de nós por amor, para nos salvar. Contemplamos Jesus Cristo em sua Palavra, pela leitura orante da Bíblia que deve ser cada vez mais praticada em nossos encontros, em nossas formações e reuniões nas comunidades, nas pastorais e nos movimentos.
Nesta quaresma que “constitui um tempo forte, um ponto de reviravolta que pode favorecer a mudança e a conversão em cada um de nós”, como lembra o Papa Francisco, a Igreja de São Miguel Paulista se propõe, cada vez mais, a resgatar a dignidade da pessoa humana criada à imagem e semelhança de Deus, demonstrando a solicitude e a caridade de toda a Igreja nas situações de marginalização, exclusão e injustiça e nunca descuidando da dimensão missionária evangelizadora apresentando e defendendo sempre os valores do Reino de Deus.
É necessário que a nossa fé nos leve a ter os olhos bem abertos às alegrias e às esperanças, mas também, às angústias e às tristezas do nosso povo. Diante da situação de violência que nos cerca, a CNBB decretou o ano de 2015 como o Ano da Paz. A Igreja no Brasil quer chamar todos os homens e todas as mulheres de boa vontade a se unirem na busca da paz, exigindo justiça e construindo uma convivência de irmãos e irmãs, de cidadãos e cidadãs que sabem exigir seus direitos e são capazes de se envolver num projeto de vida nova.
Termino lendo o último parágrafo da mensagem do Papa Francisco para a abertura desta Campanha da Fraternidade: “Queridos irmãos e irmãs, quando Jesus nos diz ‘Eu vim para servir’, nos ensina aquilo que resume a identidade do cristão: amar servindo. Por isso, faço votos que o caminho quaresmal deste ano, à luz das propostas da Campanha da Fraternidade, predisponha os corações para a vida nova que Cristo nos oferece, e que a força transformadora que brota da sua Ressurreição alcance a todos em sua dimensão pessoal, familiar, social e cultural e fortaleça em cada coração sentimentos de fraternidade e de viva cooperação. A todos e a cada um, pela intercessão de Nossa Senhora Aparecida, envio de coração a Benção Apostólica, pedindo que nunca deixem de rezar por mim.”
Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo
Dom Manuel Parrado Carral