Homilia para a Missa de Corpus Christi
“Pão do Céu na Caminhada rumo a Vida Eterna”
Catedral de São Miguel Arcanjo – 26 de maio de 2016
Meus irmãos e minhas irmãs, hoje a Igreja se reveste de pompa para celebrar com júbilo e para proclamar solene e publicamente a nossa fé na presença de Jesus Cristo na Hóstia Consagrada. Quão solene a festa, o dia, que da Santa Eucaristia nos recorda a instituição, reza a seqüencia desta liturgia.
Esta é a fé que professamos todos os dias em nossas igrejas e que hoje vamos proclamar pelas ruas do nosso bairro. Nós louvamos e adoramos o Corpo de Cristo, Pão do Céu que se faz nosso amigo e companheiro na caminhada rumo à vida eterna quando surgirá o novo dia e começará o banquete eterno, a festa que não terá fim.
Hoje os cristãos católicos saem às ruas para louvar e bendizer ao Senhor.
No silêncio de nosso coração rezemos neste momento pelo Brasil que passa por momentos tão difíceis. Confiemos ao Senhor as famílias, os pobres, os desempregados, os doentes sem assistência, as crianças desamparadas e exploradas, os jovens sem perspectivas de futuro.
Que o Senhor olhe por todos nós com a mesma compaixão que teve para com aquela multidão que o seguia no deserto como ouvimos no Evangelho que foi proclamado. São Lucas conta um episódio da vida de Jesus, o da ‘multiplicação dos pães’ para explicar aos cristãos de sua comunidade e a nós como vivenciar o ‘partir o pão’, a ‘celebração da ceia’, no dia do Senhor.
Jesus, depois de ter acolhido as multidões que o seguiam começou a falar-lhes do Reino dos Céus. É exatamente o que acontece nas nossas celebrações: o celebrante acolhe a todos os fiéis da comunidade com a saudação da paz. Em seguida, na liturgia da Palavra, anuncia-lhes o Reino de Deus.
Nos versículos 12 e 13 vemos a atitude dos discípulos tentando separar a vida dos ensinamentos de Jesus: aconselham Jesus a despedir o povo para buscar alimentos e pousada. Jesus rebate esta tendência e lhes diz: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Eles respondem: só temos cinco pães e dois peixes; a não ser que fôssemos comprar comida para toda essa gente.
Jesus ensina aos discípulos e a nós que a solução para a fome não está no mercado, mas está na solidariedade e na partilha. O pouco que se tem, quando partilhado, multiplica-se. Há uma única forma cristã que permite resolver o problema da fome dos pobres: colocar em comum os recursos. A generosidade e o amor, acompanhados pela bênção de Jesus Cristo produzirão o milagre de ter comida para todos.
No final do versículo 14, da narração de São Lucas, há uma ordem de Jesus aos discípulos que chama nossa atenção. Ele diz: “mandai o povo sentar-se em grupos de cinquenta”. Deste detalhe podemos tirar duas orientações para nossa prática pastoral: 1. Jesus não quer que o seu alimento seja consumido isoladamente, cada um por si; 2. Também, não é bom grupo numeroso onde falta o contato de amizade, o diálogo, o conhecimento mútuo e a ajuda fraterna.
O que celebramos em grandes multidões, nas grandes celebrações, deve ser vivenciado nas pequenas comunidades, nos grupos de rua e nos círculos bíblicos.
Lembro aqui nosso 6º plano diocesano de pastoral, cuja avaliação será feita nas paróquias durante o mês de junho e nos setores durante o mês de agosto tendo em vista as assembleias regionais em outubro. Ele apresenta-nos pistas de ação neste sentido propondo uma sistemática ação missionária evangelizadora com as visitas missionárias, a organização de grupos de oração, de reflexão e de formação bíblica, promovendo a leitura orante da Bíblia e uma contínua ação social, pois, prioritariamente, os pobres e os excluídos são sujeitos da evangelização e da promoção humana integral.
Vamos encontrar as famílias, de casa em casa, pois, a partir das famílias chegaremos às crianças, aos adolescentes e aos jovens e, por meio das famílias e com as famílias, sob a ação do Espírito Santo e a bênção de Nossa Senhora da Penha, iremos concretizando as propostas de nosso 6º Plano Diocesano de Pastoral
Quando o medo, a incerteza e a tentação da acomodação tentar paralisar nossas iniciativas, lembremos das palavras encorajadoras do Papa Francisco: “Quando tivermos de partir para uma periferia extrema, talvez nos assalte o medo; mas não há motivo! Na realidade, Jesus já está lá; Ele espera-nos no coração daquele irmão, na sua carne ferida, na sua vida oprimida, na sua alma sem fé. Jesus está lá naquele irmão. Ele sempre nos precede; sigamo-Lo! Tenhamos a audácia de abrir estradas novas para o anúncio do Evangelho”.
Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, elevou os olhos para o céu, abençoou-os, partiu-os e os deu aos discípulos para distribuí-los à multidão. Esta passagem nos remonta à celebração eucarística que não pode ser dissociada da nossa vida concreta, de nosso dia a dia. No fim foram recolhidos ainda doze cestos.
O Pão Eucarístico traz o compromisso para a comunidade para que haja o pão material para todos e até sobre. A Eucaristia é Dom, é Graça de Cristo: os discípulos nunca o esgotarão, sempre continuará sendo distribuído até quando surgir o novo dia e começar o banquete eterno, a festa que não terá fim.
Em um momento de silêncio vamos agradecer o dom da Eucaristia. É Jesus que se doa como alimento para nos fortalecer na Caminhada. É o extremo gesto de amor do Cristo ressuscitado para estar ao nosso lado hoje e sempre, no Sacrário, para nos acolher, nos ouvir, nos aconselhar e fazer crescer em nós a alegria de ser filhos e filhas de Deus. Bendito e louvado seja a todo o momento/O santíssimo e diviníssimo Sacramento.
Dom Manuel Parrado Carral