Diocese se despede do Padre Ticão
"É um dia de tristeza, mas também de alegria, porque temos diante de nós um homem que sempre pensou no bem dos outros, e nunca em si mesmo", disse Dom Manuel na homilia.
O ano de 2021, para a Diocese de São Miguel Paulista, se iniciou com a triste notícia do falecimento do Pe. Antonio Luiz Marchioni, por todos chamado carinhosamente de Pe. Ticão, que era pároco da Paróquia de São Francisco de Assis, no setor Ermelino Matarazzo. Pe. Ticão havia sido internado na quarta-feira, dia 30 de dezembro, com falta de ar. Feitos os exames, os médicos detectaram água no pulmão e, na UTI do Hospital Santa Marcelina, de Itaquera, iniciaram imediamente os tratamentos. Contudo, no último dia 1 de janeiro, Pe. Ticão sofreu uma parada cardiáca e não resistiu.
No dia 2 de janeiro, às 10h, nosso bispo diocesano, Dom Manuel Parrado Carral, presidiu a celebração eucarística de corpo presente. Todos os paroquianos e amigos queriam se aproximar para prestar ao Pe. Ticão sua última homenagem e, quiçá, sua gratidão por tanto bem realizado. A missa foi concelebrada por parte do clero, que também reconhecia a importância do trabalho que o Pe. Ticão realizara pela nossa igreja particular e pelo povo.
Em sua homilia, Dom Manuel falou, brevemente, acerca da vida e do ministério do Pe. Ticão, a partir de três pontos: o chamado, o ministério e o trabalho social. "Pe. Ticão foi o padre da Bíblia! A igreja de Ermelino sempre foi conhecida, mesmo fora dos limites de nossa Diocese, como a igreja da Bíblia! Impossível contar quantas Bíblias ele colocou na mão do povo, incentivando-o a meditar e viver a Palavra", disse. "Além disso, Pe. Ticão foi um homem que conseguiu, para nossa Zona Leste, grandes feitos, do ponto de vista social: a UNIFESP (Universidade Federal); a USP (Universidade de São Paulo); o Hospital de Ermelino Matarazzo... Pe. Ticão também lutou para que, ao invés de um presídio aqui próximo, fosse construída a FATEC", realçou.
Dom Manuel concluiu sua homilia lembrando da dimensão do diálogo, palavra que norteou o ministério do Pe. Ticão. "Ele 'ia entrando' onde queria e era incapaz de voltar atrás; ia até o fim, com convicção! São tantas coisas que ele nos deixa como legado e como doação, para a Igreja e para os não-católicos, porque ele sempre foi um homem de diálogo. Saibamos conservar no coração as coisas boas que ele nos deixou; e, as mais difíceis, olhemos com misericórdia, porque Deus é um Pai Misericordioso. Deus te receba no céu, Pe. Ticão! Que você seja acolhido para que também ganhemos, lá, mais um intercessor", encerrou.
Ao término da missa, em nome de toda a comunidade paroquial, o professor Waldir prestou a sua homenagem, dizendo que não havia nada a falar a não ser o 'muito obrigado', por tudo o que padre praticara e "por ter se colocado não a serviço do pobre, mas com o pobre". Feita a encomendação, os padres presentes cantaram, solenemente, o Salve Regina, como último gesto de reconhecimento por todo o bem que o Pe. Ticão realizou.
O corpo foi velado na igreja de São Francisco de Assis, das 6h às 14h do dia 2 de janeiro, e o sepultamento aconteceu no Cemitério do Carmo I, às 15h, onde, agora, o corpo do nosso irmão Pe. Ticão descansa em paz.
REPERCUSSÕES
O falecimento do Pe. Ticão despertou sentimentos de tristeza, embora sempre de esperança, em diversos âmbitos. O Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cujo presidente é o bispo diocesano de Mogi das Cruzes, Dom Pedro Luiz Stringhini, emitiu uma nota de condolências, na qual lembrava que o Pe. Ticão era uma das personagens mais conhecidas da Zona Leste da capital paulista. "Ele deixa um valiosíssimo legado, graças ao seu envolvimento e sua liderança junto aos movimentos populares, especialmente o de Moradia, com vistas à mobilização e à luta para a conquista de moradia para o povo. [...] Além disso, sua atuação foi marcante no trabalho de cuidado da saúde e prevenção de doenças. [...] Ele se esforçou durante essas quatro décadas num trabalho de formação de lideranças, articulação e mobilização, promovendo e valorizando os fóruns populares", dizia.
O vereador Eduardo Suplicy, em suas redes sociais, também se manifestou. "Com muita tristeza, transmito forte sentimento de pesar a toda comunidade da Paróquia de São Francisco, em Ermelino Matarazzo, pelo falecimento do Pe. Ticão. [...] Pe. Ticão foi responsável por extraordinários benefícios para a Zona Leste. [...] Ele também dava total apoio à Feira das Nações, de grande tradição em Ermelino Matarazzo. Uma lindíssima vida exemplar de maravilhoso homem cristão", escreveu.
Luiza Erundina também se pronunciou. "Partiu o incansável 'guerreiro de Deus', que viveu sua breve existência a serviço dos pobres da zona leste, como um ardoroso e fiel pastor da Igreja dos pobres. Entre eles, muitos nordestinos como eu tiveram nele um irmão de verdade nas suas agruras e sofrimentos. Obrigada por tudo isso, Pe. Ticão, e lá do seio do Pai, nos inspire e nos dê força na nossa luta em defesa dos direitos dos pobres, a quem o Senhor dedicou gerosamente sua vida", testemunhou.
A Ouvidoria Geral da Defensoria Pública de São Paulo, por meio de uma nota no Facebook, também emitiu seus sentimentos. "Atuando ao lado dos movimentos sociais, sua paróquia estava sempre aberta a sediar eventos de interesse da comunidade. [...] Manifestamos nossos sentimentos aos familiares, amigos e companheiros de militância do Pe. Ticão, conscientes de que suas lutas e conquistas permanecerão beneficiando milhares de pessoas".
A Irmã Helena Corazza, fsp, da Congregação das Irmãs Paulinas, autora de diversos livros no campo da comunicação, também enviou suas condolências. "Seu testemunho e compromisso com os mais necessitados, sua capacidade de mobilização pelas causas dos pequenos e pela saúde do povo, marcaram sua vida. Sentimentos à Diocese, familiares e paroquianos. Estou em comunhão".
De Roma, o Pe. Vincenzo Frisullo, O.SS.T., que por anos foi pároco na Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, da Vila Curuçá, também enviou sua solidariedade. "[...] Meus sentimentos fraternos pela partida do nosso amado irmão e amigo Pe. Ticão, com o qual tive a alegria de trabalhar como vários anos no Secretariado de Pastoral. O tive, sobretudo, como inspiração nos trabalhos pastorais e sociais, e como referência na incansável e generosa atividade em favor dos excluídos, que o caracterizou, impulsionado pela Palavra de Deus, da qual também foi apóstolo e iluminado mensageiros. Que a Santíssima Trindade o receba no seu seio e lhe conceda a paz dos justos".
Da Arquidiocese de São Paulo, o Pe. Julio Lancellotti, responsável pela pastoral do povo de rua, escreveu que "se unia ao povo de Ermelino Matarazzo pelo falecimento do Pe. Ticão". Outros padres da nossa Diocese e lideranças de outras igrejas também saudaram àquele a quem Dom Angélico Sândalo Bernardino chamava de "o trator de Deus".
Pela misericórdia de Deus, que nosso irmão, Pe. Antonio Luiz Marchioni, descanse em paz. Amém!