Homilia da Celebração de Abertura da CF/2012
Catedral de São Miguel Arcanjo – 26/02/2012
Tema: Fraternidade e Saúde Pública
Lema: “Que a saúde se difunda sobre a terra” (Eclo.38,8)
Nesta tarde, reunidos na Igreja Mãe de nossa Diocese de São Miguel Paulista, revestidos do espírito quaresmal, que nos chama à conversão e nos propõe viver mais intensamente a vida de oração, a reconciliação e a prática da caridade, estamos abrindo oficialmente a Campanha da Fraternidade de 2012.
Neste ano, durante o tempo da quaresma, a Campanha da Fraternidade nos convida a refletir sobre o tema: Fraternidade e Saúde Pública com o lema: “Que a saúde se difunda sobre a terra” (Eclo. 38,8).
A quaresma é o tempo favorável para a busca de novas relações, pois, com a oração, o jejum e a caridade, que praticamos como preparação à celebração do mistério pascal de Jesus Cristo, na sua paixão, morte, ressurreição e ascensão ao céu, somos chamados a sermos homens e mulheres novos.
É necessário que a nossa fé nos leve a ter os olhos bem abertos às alegrias e às esperanças, mas também, às angústias, às tristezas e ao sofrimento do nosso povo. A Campanha da Fraternidade deste ano nos convida a lançar os olhos sobre a realidade da Saúde Pública no Brasil e a tomar consciência de nosso compromisso de cristãos para mudar esta realidade.
Como ouvimos há pouco, a Saúde é definida como “um processo harmonioso de bem-estar físico, psíquico, social e espiritual, e não apenas a ausência de doença, processo que capacita o ser humano a cumprir a missão que Deus lhe destinou, de acordo com a etapa e a condição de vida em que se encontre”.
Portanto, para que a saúde se difunda sobre a terra é preciso uma ação muito mais ampla do que a medicina curativa, torna-se necessário implantar uma política de saúde preventiva, garantir a todos as condições mínimas de bem-estar, exigir saneamento básico e, nestes campos, as nossas comunidades têm muito a colaborar. É preciso, cada vez mais, desenvolver a consciência de que a saúde é um dom a ser preservado criando bons hábitos.
A mobilização de nossas comunidades e pastorais em torno da realidade da saúde pública é questão de compromisso cristão: A Igreja se preocupa com as situações de sofrimento e morte a que está sujeito a grande maioria de nosso povo que depende do SUS. Isto precisa ser transformado, pela força do evangelho, pois, Jesus afirmou: “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo10,10). Movido pela fé, como discípulo missionário, cada cristão deve se empenhar e participar nas conferências e conselhos de saúde de seu bairro, como o fermento na massa, para levedar, para mudar e para transformar a realidade que aí está.
A primeira leitura que hoje foi proclamada nos relata a última parte da história do dilúvio e nos deixa o ensinamento de que Deus nunca se conforma diante do mal. Deus sempre intervém para corrigir, para reconstruir e para renovar. Do mal provocado pelo pecado Deus faz surgir uma nova humanidade, à qual promete somente coisas boas e garante todas as suas bênçãos: “Eis que vou estabelecer minha aliança convosco e com vossa descendência, com todos os seres vivos que estão convosco.”
Deus nunca desiste de nós. Ele é fiel e nos ama na gratuidade. Não porque somos bons, mas porque Ele é bom, Ele é a própria bondade. Se erramos, Ele está pronto a nos perdoar e a refazer a sua aliança; “Este é o sinal da aliança que coloco entre mim e vós, e todos os seres que estão convosco, por todas as gerações futuras: ponho meu arco nas nuvens como sinal de aliança entre mim e a terra”.
A Bíblia se serve dessa maravilhosa imagem do arco-iris para significar a paz entre o céu e a terra, o abraço entre Deus e o universo. Indica a aliança universal que envolve todos os homens e mulheres e todas as criaturas. A salvação gratuita de Deus, nos revela a bíblia desde o começo, se destina a todos os povos. Este é um texto que nos convida à alegria, pois, mostra que nenhuma maldade humana conseguirá destruir o amor que Deus tem por nós.
O texto do evangelho há pouco proclamado nos fala das tentações de Jesus no deserto. A primeira frase do evangelho ‘o Espírito levou Jesus para o deserto’, não é uma simples informação. É uma mensagem teológica: depois de seu batismo Jesus pleno da força do Espírito começa sua luta contra o mal. Jesus teve que contrapor-se, durante toda sua vida, com propostas que queriam desviá-lo do projeto do Pai, propostas que vinham de seus inimigos, do povo que queria fazê-lo rei e até de seus discípulos, como Pedro que não queria que Ele fosse a Jerusalém, onde se consumaria sua missão redentora.
Se esta foi a experiência de Jesus, não devemos estranhar que também nós tenhamos tentações. Sabemos que nestes momentos não estamos sozinhos. Dentro de nós está o Espírito Santo que nos dá forças para superar qualquer provação e ao nosso lado temos Jesus que nos conforta, pois, Ele mesmo conheceu o que foi a tentação.
Depois de ter dito que Jesus foi tentado, o evangelista Marcos acrescenta que Ele estava na companhia de animais selvagens e os anjos o serviam. Com estas figuras, mais uma vez, São Marcos quer contrapor as conseqüências do pecado que criou a desordem, a divisão, a violência e a obediência de Jesus que deu início a um novo paraíso, onde há convivência pacífica entre todas as criaturas do universo.
A segunda parte do evangelho nos relata, em resumo, toda a pregação de Jesus: ‘Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho’. É um convite dirigido a todos nós, neste início da quaresma.
Este é o tempo favorável, o momento de mudar o coração e acolher com alegria o mundo novo, no qual Jesus já entrou com a sua vitória sobre o mal. Acolhendo e seguindo a Jesus, todos podem entrar para fazer parte desta nova humanidade.
O Papa Bento XVI, em sua mensagem para a quaresma nos diz que, ‘o fruto do acolhimento de Cristo é uma vida edificada segundo as três virtudes teologais: trata-se de nos aproximarmos do Senhor com um coração sincero, com a plena segurança da fé, de conservarmos firmemente a profissão de nossa esperança, numa solicitude constante por praticar, juntamente com os irmãos, o amor e as boas obras’.
Nesta sua mensagem o Papa desenvolve uma reflexão sobre a passagem da carta aos Hebreus ‘Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras’. Esta passagem de Hebreus 10,24 é muito sugestiva para a vivência da Campanha da Fraternidade. Com efeito, prestar atenção ao outro inclui em procurar para ele todo o bem físico, psíquico, moral e espiritual. É preciso abrir os olhos para as necessidades do irmão, só assim contribuiremos para que ‘a saúde se difunda sobre a terra’.Esta missão é confiada a cada um de nós, seja qual for nosso campo de atuação, para que haja saúde e bem-estar para todos.
Neste momento quero dirigir uma saudação especial e uma palavra de estímulo aos profissionais da área da saúde, aos padres que com sua solicitude pastoral estão sempre atentos às necessidades do povo que lhe foi confiado, ministrando o conforto espiritual e organizando as pastorais, às religiosas que na Diocese trabalham na área da Saúde e no atendimento aos idosos, aos membros da Pastoral da Saúde, aos Ministros que visitam os enfermos, levando o conforto da Palavra de Deus e a Eucaristia, e às numerosas famílias que cuidam dos doentes e idosos em suas casas. Enfim a todos que tem um olhar de compaixão e se abrem para as necessidades dos que carecem da saúde.
Meus irmãos e minhas irmãs, encerrando, quero conclamar a todos para, a partir desta Campanha da Fraternidade, assumirmos três prioridades como gestos concretos de nosso compromisso de cristãos: 1. Implementar a Pastoral da Saúde em todas as Paróquias e comunidades; 2. Participação nos Conselhos de Saúde, como membros do Conselho e no acompanhamento de suas atividades; 3. Prevenção da saúde organizando palestras, encontros, cursos e campanhas para difundir hábitos saudáveis.
Que São Miguel Arcanjo nos defenda de todos os perigos e que Nossa Senhora da Penha nos abençoe e ajude na vivência desta Campanha da Fraternidade.
Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Dom Manuel Parrado Carral