33º domingo do Tempo Comum: IV Dia Mundial do Pobre
Dando continuidade às formações preparadas pelos professores do nosso Instituto de Teologia São Miguel, trazemos uma catequese acerca do Dia Mundial do Pobre, instituído pelo Papa Francisco, em 2016, para o 33º domingo do Tempo Comum.
(Imagem: Vatican News)
Neste ano de 2020, no dia 15 de novembro celebramos o IV Dia Mundial dos Pobres, instituído pelo papa Francisco com a Carta apostólica Misericordia et Misera, no ano de 2016. Cada ano é proposto uma temática para aprofundar estes que são os privilegiados de Jesus. Neste ano, o Papa escolheu como tema “Estende a tua mão ao pobre”, inspirado em Eclo 7,32. Nele, somos convidados a conjugar a fé com a vida. Viver uma vida espiritual em consonância com a criação, sobretudo, com os mais pobres de nossa sociedade.
O desejo de estabelecer um dia dedicado aos pobres já tinha sido pensado pelo papa Francisco durante o Jubileu Extraordinário da Misericórdia com a bula Misericodiae vultus, estabelecido em 2015. Devemos lembrar que a preferência pelos pobres por Jesus e, portanto, pela Igreja, está no centro do Evangelho, como já havia sido dito pelo papa Bento XVI em 2007, quando veio ao Brasil para participar da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, ocorrido em Aparecida. Aliás, aqui o Papa já salientava que a Igreja deve ser advogada “da justiça e dos pobres”.
Ao finalizar o Jubileu Extraordinário da Misericórdia em 2016, o papa Francisco estabeleceu que todos os anos, no XXXIII Domingo do Tempo Comum, a Igreja em todo o mundo, para bem se preparar para a Solenidade do Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, pudesse celebrar o Dia Mundial dos Pobres. Como justificativa, o papa dizia que “será um Dia que vai ajudar as comunidades e cada batizado a refletir como a pobreza está no âmago do Evangelho e tomar consciência de que não poderá haver justiça nem paz social enquanto Lázaro (o pobre) jazer à porta da nossa casa (cf. Lc 16,19-21). Além disso este Dia constituirá uma forma genuína de nova evangelização (cf. Mt 11,5), procurando renovar o rosto da Igreja na sua perene ação de conversão pastoral para ser testemunha da misericórdia.”
Para este ano de 2020, o papa Francisco procurou inspiração no capítulo 7, versículo 32 (na bíblia da CNBB e nas bíblias católicas que seguem a tradução da Nova Vulgata, isto é, em latim o versículo é o 36) do livro do Sirácida (ou Eclesiástico), onde diz: “Estende a tua mão ao pobre para que tua benção seja perfeita.” O Papa nos chama atenção que neste livro sagrado há sempre uma preocupação para as situações concretas da vida. Assim, “a constante referência a Deus não impede de olhar para o homem concreto”. O que significa que a nossa relação pessoal com Deus, sobretudo através da oração, não pode servir de desculpa para o descuido com o próximo, especialmente com os mais pobres (pessoas em situação de rua, encarcerados, desempregados, viúvas, estrangeiros etc.). É pelo serviço aos mais pobres que a bênção do Senhor nos atinge melhor e nossas orações alcançam o seu objetivo. “A generosidade que apoia o vulnerável, consola o aflito, mitiga os sofrimentos, devolve a dignidade a quem dela está privado, é condição para uma vida plenamente humana”, afirma o Papa.
Agora, como podemos colaborar para “eliminar ou pelos menos aliviar” a “marginalização” e o “sofrimento” das pessoas mais pobres? Com este questionamento, o papa Francisco nos interpela a vivermos “pessoalmente” a “pobreza evangélica”. E o que seria viver na carne a “pobreza evangélica”? Dar voz ao “clamor silencioso dos pobres”; “defendê-los”; “solidarizar-se com eles”; torná-los participantes “na vida da comunidade”. Além do mais, é necessário estender “a mão”. Tal gesto desvela a proximidade com os mais pobres; além, de pura solidariedade e amor.
Assim, ao estendermos “a mão” ao pobre significa que estamos assumindo a responsabilidade pelo outro e pelo mundo. E este é “um tempo favorável” para nos voltarmos uns aos outros, sobretudo, aos mais vulneráveis. “A Terra clama por justiça” e todos nós batizados somos chamados a diaconia, ao serviço de entrega ao outro, para que a justiça se concretize no anseio dos que clamam por justiça. Por isso, o papa Francisco chama atenção para que nossas atitudes possam ser mais concretas, daí o gesto do estender a mão. “’Estende a mão ao pobre’ é, pois, um convite à responsabilidade, sob forma de empenho direto, de quem se sente parte do mesmo destino. É um encorajamento a assumir os pesos dos mais vulneráveis, como recorda São Paulo: ‘Pelo amor, fazei-vos servos uns dos outros. É que toda a Lei se cumpre plenamente nesta única palavra: ama o teu próximo como a ti mesmo. (...) Carregai as cargas uns dos outros’ (Gl 5, 13-14; 6, 2).”
Por fim, não podemos ser indiferentes ao sofrimento alheio, ou “com as mãos nos bolsos”, sem compaixão aos que sofrem. Enquanto cristãos, somos chamados a cuidar melhor da Casa Comum, no serviço aos mais pobres. Sendo instrumentos de justiça e paz e conscientes de que fomos por primeiro amados por Aquele que alimenta à todos nós com o pão da Palavra e com o pão da Eucaristia e, por isso, despertados para o amor aos mais pobres.
Diác. Elton da Silva Santana
Neste semestre, lecionando 'Antigo Testamento' para a turma do 2º ano do nosso Instituto de Teologia. É coordenador da Comissão de Diáconos da Diocese de Mogi das Cruzes, SP