A solenidade litúrgica da Ascensão do Senhor
Continuando as formações preparadas pelos professores do nosso Instituto de Teologia São Miguel, publicamos uma sobre a Ascensão do Senhor, preparada pelo Pe. Lício de Araújo Vale.
“Depois de dizer isto, Jesus foi elevado, à vista deles, e uma nuvem o retirou aos seus olhos. Continuavam olhando para o céu, enquanto Jesus subia. Apresentaram-se a eles então dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: ‘Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que, do meio de vós, foi elevado ao céu, virá assim, do mesmo modo como o vistes partir para o céu’” (At 1, 9-11).
A Solenidade da Ascensão do Senhor é celebrada 40 dias depois do Domingo de Páscoa, normalmente uma quinta-feira. No Brasil, é celebrada no Domingo seguinte ou dez dias antes de Pentecostes, com o qual se encerra o Tempo Pascal. Jesus despede-se novamente dos apóstolos que agora estão prontos para a missão, como discípulos-missionários. Porém, a separação é só aparente, porque o Senhor, invisível, continua a operar na Igreja, e temporário, porque um dia Ele voltará.
FONTES HISTÓRICAS
Os Evangelhos falam pouco da Ascensão: Mateus e João terminam suas narrações com a aparição de Jesus depois da Ressurreição; Marcos dedica-lhe a última frase do texto, enquanto que Lucas descreve muito mais, principalmente nos Atos dos Apóstolos.
Nos Atos, Lucas detalha que 40 dias depois da Páscoa – um número muito simbólico em toda a Bíblia – Jesus conduz os apóstolos para Betânia e ao chegar no Monte das Oliveiras (chamado por isso Monte da Ascensão) os abençoa e fala a todos antes de subir ao céu e retornar ao Pai. Neste discurso, Jesus confirma a promessa da vinda do Espírito que não os deixará sós e prefigura a sua segunda vinda, no final dos tempos.
A celebração da Ascensão tem origens antigas e é testemunhada tanto por Eusébio de Cesareia como pela peregrina Egéria, e é influenciada pela tradição judaica como por exemplo na imagem da “subida” para Deus não apenas física – embora catedrais e mosteiros estejam quase sempre em posições elevadas – mas também espiritual, entendida como purificação e recolhimento para escutar a sua Palavra. Inicialmente a solenidade era celebrada em Belém para evidenciar que tudo tinha começado ali e era unida à festa de Pentecostes, celebrada na tarde do mesmo dia. No século V-VI, contudo, já estavam separadas, como demonstram São João Crisóstomo e Santo Agostinho que dedicaram várias homilias à Ascensão.
O SIGNIFICADO DA ASCENSÃO
No seu retorno ao Pai, Jesus conclui a sua presença física entre nós, embora continue vivo e presente na Igreja. Mas é graças a Ascenção que céu e terra se unem novamente: Jesus precede como o redentor, como um irmão, como um amigo, como o rei, mas sobretudo como o Filho Único, todos os seres humanos no paraíso, onde Deus está. É interessante notar que, como homem, Jesus tinha descido aos infernos para salvar Adão e assim, com a sua Ascenção reafirma mais uma vez que o céu é o destino a ser almejado e alcançado, sobretudo pela santidade de vida e comprometimento com a sua missão.
“À direita do Pai”
Em várias passagens dos Evangelhos, Jesus prefigura o que aconterá na Ascenção. Cito, por exemplo, na Última Ceia, quando anuncia “vou ao Pai”. E o lugar à direita do Pai é, justamente, o lugar de honra, o Filho predileto que por amor se fez carne, morreu e ressuscitou para salvar a humanidade.
Aquele lugar é seu para sempre, porque Jesus antes de ser um homem é Filho do Pai e junto d’Ele tem a glória eterna. Portanto, Jesus sobe aos céus para dar início ao reino que não tem fim, mas também para preparar o nosso lugar no céu.
Se Jesus não retornasse ao Pai nos céus, não haveria redenção nem salvação para o homem: de fato, só assim Ele completa a Sua Ressurreição enviando ao mundo, em seguida, o Consolador, o Espírito Santo Paráclito.
No Evangelho (cf. Mt 28,16-20) Jesus foi ao encontro do Pai, depois de uma vida gasta ao serviço do “Reino”; deixou aos seus discípulos a missão de anunciar o “Reino” e de torná-lo uma proposta capaz de renovar e de transformar o mundo. Celebrar a ascensão de Jesus significa, antes de mais, tomar consciência da missão que foi confiada aos discípulos e sentir-se responsável pela presença do “Reino” na vida dos homens. A missão que Jesus confiou aos discípulos é uma missão universal: as fronteiras, as raças, a diversidade de culturas, não podem ser obstáculos para a presença da proposta libertadora de Jesus no mundo.
Neste semestre, lecionando 'Liturgia' para a turma do 3º ano de Teologia. É pároco na Paróquia da Sagrada Família, do setor Ponte Rasa, e coordenador deste. É o cerimoniário diocesano e suicidólogo.